Passava das 2 horas da madrugada
quando acordei. A televisão ligada sem som noticiava um incêndio numa fábrica
de alcatifas, 2 bombeiros levavam 2 crianças asiáticas pela mão. O presidente apelou
à abertura de um inquérito para que viessem a apurar-se as causas do incêndio,
e quando questionado sobre a presença das crianças asiáticas no interior da
fábrica referiu que essa era uma
questão prioritária. De seguida retirou-se, os jornalistas ainda lhe
perguntaram sobre o escândalo sexual envolvendo o vereador do turismo e o
vereador da área social, mas o presidente desapareceu dentro do carro de vidros
fumados. 2 horas e 25 minutos da manhã para ser exacto. Tenho fome, desço as
escadas. Na recepção está um rapaz de não mais de 18 anos, fuma um cigarro às
escondidas que esmaga com os dedos por baixo do balcão; o queixo treme da
queimadura.
- Boa noite, senhor – cumprimenta.
- Boa noite. Onde posso encontrar
comida?
- Temos uma máquina na sala de
visitas. As bebidas posso eu vendê-las, senhor, a máquina avariou na semana passada.
Pergunto-lhe se conhece Rosita da
loja de velas e cortinados. Ele responde que não, que quem deverá conhecê-la é
Alvarez, o segurança; já trabalhou na associação dos comerciantes e prestava
serviço em muitas lojas e conhece todos os comerciantes e lojistas de Hispéria. Alvarez é
um homem atarracado e com mais de 120 quilos. Encontro-o à entrada. Informa-me
que a loja da Rosita fechou dois anos atrás, fugiu para a América, não se sabe
se do Sul se do Norte, com dívidas por pagar. Pergunto-lhe que poderiam ter de
tão especial os beijos de Rosita para que me tivessem sido aconselhados pelo dono
da taberna El Caballo. Embaraço-me com a pergunta. Ele encolhe os ombros e diz
que não sabe. Refere-me porém o professor García, especialista em mitologia Hisperiana, especialidade que começou com a descoberta de dezenas de cemitérios
antigos por toda a cidade, e desde então tem criado as mais diversas
ramificações: mitologia culinária, mitologia urbana, mitologia
ancestral, mitologia habitacional, etc.. O professor García é mestre em
mitologia contemporânea e ele será o homem certo para me falar de Rosita, assegura-me.
Agradeço e despeço-me. Subo as escadas.
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