- Sempre fui muito pequeno, mas minha mãe alimentou-me de acordo com uma velha tradição celta. Cresci tanto que a casa se tornou pequena para mim, e minha mãe, que morreu de morte comum, entregou-me a uma tia que habitava uma terra distante, Inglram, nas costas da Nova Caledónia. Minha tia, cujo nome lembra águas-pés brancas e verdes, viajava no dorso das baleias duas vezes por ano, maio e um outro mês aleatório. Comia caranguejos e algas. Desde que torceu o pé nunca mais foi a mesma pessoa.
domingo, 17 de outubro de 2021
Juan el Pequeño
- Sempre fui muito pequeno, mas minha mãe alimentou-me de acordo com uma velha tradição celta. Cresci tanto que a casa se tornou pequena para mim, e minha mãe, que morreu de morte comum, entregou-me a uma tia que habitava uma terra distante, Inglram, nas costas da Nova Caledónia. Minha tia, cujo nome lembra águas-pés brancas e verdes, viajava no dorso das baleias duas vezes por ano, maio e um outro mês aleatório. Comia caranguejos e algas. Desde que torceu o pé nunca mais foi a mesma pessoa.
segunda-feira, 24 de maio de 2021
Moreno do FMAM
- As modas e os mitos partilham a mesma raiz no pensamento: a procura pelo absoluto, o que, evidentemente, o supõe ab initio. Porém, se necessário se torna supor o absoluto, e não afirmá-lo em claras palavras, como podemos nós, em pleno juízo, confirmar que o absoluto é aquilo se apresenta ser?
Moreno é o único elemento ativo do Famoso Movimento Anti-Mitos (FMAM), recentemente oficializado junto das entidades competentes das regiões.
- Tivemos assento num dia escuro de Novembro; tão escuro que nem a tinta da caneta se percebia no papel. Diria um dia mítico, caso acreditasse em mitos.
Moreno tem na cara a cor branca de uma nuvem tímida de Verão. Nos braços magros como ramos secos de árvore, nascem tatuagens de cobras, serpentes e lagartos azuis e verdes, que parecem mover-se languidamente sob o calor soturno de Hispéria.
- No auge do FMAM, sete meses antes do assento oficial, éramos quatro elementos bastante ativos. Resto eu. A Carmen diz ter-se dedicado ao cake design, a Olívia entregou-se ao pára-quedismo aleatório, o Carlitos emigrou para o Rio de Janeiro, onde sonha construir uma escola para formigas com as próprias mãos. Todos eles, na verdade, apresentarem argumentos válidos para deixarem o FMAM. Todavia, creio que no fundo de cada um deles forças maiores operaram.