Alvarez apressa-se atrás de mim pelas escadas, ouço o
silêncio de 120 quilos a castigarem os degraus.
- Espere um pouco, por favor.
O rapaz de não mais de 18 anos da recepção acompanha-o.
Depois de se assegurar que ele me encontrou, dá meia volta e volta para o posto
de trabalho.
- Chama-se Henrique Luz? - pergunta ele.
Franzo o sobrolho.
- Desculpe a pergunta, o rapaz mencionou-o quando falávamos
dos clientes...
- Chamo-me Henrique Luz - respondo-lhe.
- Tem um irmão chamado Afonso Luz e uma irmã chamada Anabela
Luz, não tem? É filho de Manuel Pereira Luz e de Acácia Silva Melo? Os seus
avós paternos vivem em Évora?
Respondo-lhe que sim. Ali estava eu, a 400 quilómetros de
casa, sem ligações a ninguém, e aquele homem atarracado a recitar a minha
genealogia, até chegar a parentes que nunca tinha ouvido falar e a graus de
parentesco que não sabia existirem. Alvarez sorriu e soprou como que cansado.
Disse qualquer coisa sobre a sua memória prodigiosa e sorriu ainda mais. O seu
dente reflectiu a luz amarela da lâmpada em forma de vela.
- Em Hispéria somos muito dados ao estudo das mitologias, a
minha especialidade são as mitologias familiares.
De seguida explicou-me com grande detalhe as suas próprias
origens, remontando ao séc. IV. Os seus antepassados tinham fugido a uma
invasão de animais selvagens junto à orla marítima onde é a actual Turquia,
atravessaram os Estreitos Turcos e instalaram-se em Itália. Dedicavam-se à
olivicultura e sempre geraram famílias numerosas.
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