Flávia cultiva um jardim suspenso em casa. Através de um sistema que envolve muitas cordas, muitos pregos e muitos vasos, debruçam-se gerânios e begónias do seu tecto; um raminho de salsa espreita por cima do armário do pão e dos pratos; um pessegueiro anão frutifica entre a pia e o fogão. Chama-se Oliver. Flávia diz Oliver muitas vezes. Oliver é a sua palavra preferida, se assim o podemos dizer. Muitas pessoas usam uma interjeição ou uma asneira quando algo não corre bem, Flávia socorre-se de Oliver. O-li-ber: dito pela Flávia. E O-li-ber é o seu pessegueiro. As folhas do Oliver concorrem com o detergente da louça e com o bico do gás. Aquilo eu nunca uso, explica com desdém. O O-li-ber não gosta muito de calor, fica um ano inteiro sem florir se cozer batatas ou fritar uma salsicha. O-li-ber, repete a Flávia. Os morangueiros vermelhos escorrem pelas portas dos armários e no centro da cozinha, isolada, uma nespereira padece de doença terminal. Chama-se Olivia. O-li-bi-a, repete a Flávia. Foi-me oferecida pelo Pietro. O maldito. O-li-bi-a, repete a Flávia. Não tenho esperança na Olivia. Nasceu frágil, morrerá frágil. E se morrer, morreu. Não vou sentir-me triste por causa de uma nespereira. Tristes devemos sentir-nos pelas pessoas. Como pela Irene, a Velha, que morreu por causa de uma pneumonia e por causa do frio. Mais por causa do frio do que por causa da pneumonia, pois sem frio não lhe tinha chegado a pneumonia.
Os seios da Flávia refrescam as mãos como pêssegos primaveris.
Choveu em Hispéria esta manhã, e as pessoas sorriem e saltitam. Hispéria é uma cidade seca e escura. Há nuvens mas nunca chove.
I heart this.
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