Hispéria (ou Hespéria) 1. Uma das ninfas inácides concebidas pelo potâmoi Ínaco 2. Hispânia ou Península Ibérica (Hespérica), tal como referida por Camões 3. Cidades dos Estados Unidos da América (Califórnia e Michigan) 4. Asteróide descoberto em 1861 por Giovanni Schiaparelli 5. Espécie de insecto (Aphaenogaster hesperia) 6. Espécie de gastrópode (Inodrillia hesperia) 7. Região do planeta Marte (Planum Hesperia) 8. Espécie de borboleta 9. Jornal (Hesperia) académico de Arqueologia 10. Cidade da Península Ibérica para onde confluem viajantes de todas as partes do mundo e centro mundial de estudos em mitologia (Hispéria).

sábado, 14 de julho de 2012

O tuareg e Aqutur

A minha profissão?, perguntei-lhe. O homem olhou para mim e respondeu: "Sim, a sua profissão. Vai dizer-me que não possui nenhuma?" 100 metros à frente fica a Igreja de Paula Mónica -  é de Paula Mónica na verdadeira acepção da palavra, porque foi ela que a construiu aos longo de 20 anos. As coloridas ruas de Hispéria foram tomadas esta tarde por caminhantes africanos. Consigo distinguir dois senegaleses arrastando um saco enorme, um dele fala muito alto e esbraceja como um perdido, o outro mostra os dentes suados e encosta-se à parede; mais à frente distingo três etíopes, caminham mais rapidamente do que toda a gente (e talvez mesmo mais rapidamente do que as velocidades combinadas dos outros transeuntes), um veste vermelho, e outros dois vestem verde e transportam galinhas na cabeça - as galinhas agitam-se e tentam furtar-se ao agarro dos etíopes, só algumas penas são bem sucedidas; duas marroquinas arrastam um carrinho cheio de carpetes douradas, uma delas para um pouco, encosta-se a uma montra e bebe água de uma garrafa partida, e a outra grita por ela zangada; um grupo de 10 angolanos paira muito vagarosamente sobre o chão como se o filme estivesse demasiadamente acelerado para eles, vestem fatos pretos e camisas brancas, embora estejam descalços, e alguns usam óculos de sol brancos ou amarelos; os sudaneses são os mais furtivos, é muito raro conseguir fixá-los durante mais do que 10 segundos, logo de seguida desaparecem misteriosamente e aparecem noutro ponto da rua, e depois voltam a desaparecer; está ali uma moçambicana, come uma batata crua e abana as coxas como se batesse num tambor. A minha profissão?, pergunto de novo. "Sim, a sua profissão. Vai dizer-me que não possui nenhuma profissão?" É um tuareg cego, estica a mão direita muito devagar para não correr o risco de a partir contra uma superfície dura, e a esquerda alonga-se para trás, não vá por qualquer motivo perder o equilíbrio  de tanto esticar a direita. "Qual é a sua profissão?", insiste. "Nenhum  de nós possui uma profissão, apenas Aqutur possui a profissão e, por sua vez, e porque Aqutur devolve o que possui, a profissão possui Aqutur." E afasta-se. Avisto um sudanês. Já não.

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