
Pablo Quintero - 62 anos, sapateiro;
Tina Quintero - 59 anos, irmã de Pablo Quintero, desempregada;
Antonio Benitez - 73 anos, alfaiate;
Juan Bermudez - 32 anos, pirata das Caraíbas;
Fernando Gullén - 58 anos, inspector da polícia;
Helga Liné - 34 anos, costureira;
Alfonso Vallejo - 48 anos, professor primário.
Sob a orientação de Napoleão, o grupo reunia às 7 da manhã. Tina servia o café e o pão com manteiga, e Napoleão desenhava esquemas complexos no quadro. Frequentemente, era interrompido por Helga Liné, que anunciava numa voz aguda: "Senhor Napoleão, não pode ser assim, o menino não comeu nada!". Napoleão continuava a desenhar ainda mais entusiasmado. Para que Napoleão não perdesse todos os desenhos, porque teria de apagar para desenhar novamente, conseguiu que a Marinha Inglesa lhe cedesse todos os quadros de lousa a bordo de todos os navios. Conseguiu juntar 2, um deles partido porque um marinheiro cabeceou-o fortemente para perder os sentidos (um jogo muito popular à altura entre embarcados de longa duração). Helga Liné costurava os fatos, Antonio fundia os metais, Alfonso polia e soldava quando necessário, Fernando coordenava os trabalhos, Juan acondicionava os tubos do ar, Gavian anotava perguntas complexas no caderno de Napoleão, para que ele continuasse a desenhar esquemas no quadro e não interferisse no processo construtivo, Tina assistia a tudo com muita atenção e sem dizer uma palavra - sempre que alguém se sentia ignorado, e portanto mais triste, olhava para Tina, que respondia com um encorajador sorriso.
Às 10 da manhã o grupo saía para ensaiar o escafandro na lagoa funda, mas não sem antes deixar escrita uma série de questões, envolvendo geologia, geografia, geometria, filosofia, psicologia, matemática, física e química, medicina, ventriloquismo e equilibrismo, de modo a que Napoleão continuasse os seus esquemas sem interferir nos treinos.
Às 11 da manhã o grupo parava para recompor a barriga, comendo preferencialmente favas e cubos de carne de frango, acompanhadas de vinho branco.
Às 11.10 mergulhavam Alfonso Vallejo, o professor primário, na lagoa com o escafandro vestido.
Às 13.00 recolhiam Alfonso Vallejo, retiravam as anémonas e as estrelas do mar agarradas ao fato.
Depois de almoçarem, passavam o resto do dia a jogar futebol, com a cabeça do escafandro a fazer de bola.
Tudo isto conta o velho entre uma e outra bafurada de fumo. Despedimo-nos, justificando urgência em chegar ao mercado antes do seu fecho, e viramos costas.
-Este é um dos maiores trapaceiros de Hispéria, deste tempo e do outro também - diz o tio Alcides. - De seguida dirá que tem em sua posse o livro do escanfandrismo com cópias de todos os esquemas de Napoleão, e que, como precisa muito de dinheiro, está disposto a vendê-lo por uma quantia justa, à volta de 15,000 euros. Já vendeu muitos livros de escafandrismo a viajantes de leste, sobretudo, que apreciam muito a arte do escafandrismo. Não são mais do que cadernos gatafunhados pelo sobrinho, um idiota chamado Armand Rafael, inspirados num documentário que passou na National Geographic. Já tentou vender-me o livro centenas de vezes e mais algumas.
Sem comentários:
Enviar um comentário