Hispéria (ou Hespéria) 1. Uma das ninfas inácides concebidas pelo potâmoi Ínaco 2. Hispânia ou Península Ibérica (Hespérica), tal como referida por Camões 3. Cidades dos Estados Unidos da América (Califórnia e Michigan) 4. Asteróide descoberto em 1861 por Giovanni Schiaparelli 5. Espécie de insecto (Aphaenogaster hesperia) 6. Espécie de gastrópode (Inodrillia hesperia) 7. Região do planeta Marte (Planum Hesperia) 8. Espécie de borboleta 9. Jornal (Hesperia) académico de Arqueologia 10. Cidade da Península Ibérica para onde confluem viajantes de todas as partes do mundo e centro mundial de estudos em mitologia (Hispéria).

terça-feira, 17 de julho de 2012

Viajar com o coração fora do corpo

coração - esquemaO meu tio não gosta de viajar sozinho. No entanto, por maioria das vezes a que a companhias viajadas se refere, invoca algo assim:
- Gosto de viajar sozinho! - esta é a voz dele. Queira o leitor aproximar-se mais, apenas um pouco mais, assim está perfeito, e atente: além do pigarrear britânico do meu tio, medalha colada ao peito durante uma noite de tempestade maldiviana imensa, sentirá o leitor um certo amargo, uma certa tristeza e uma subtil saudade dos portugueses que só assim, quase rosto no rosto, se sente. Desta forma terei feito de si, caro leitor, cúmplice para denodar o tio Alcides da convicção com que afirma gostar de viajar sozinho. Dizem os mais próximos que tal se deve aos encantos defuntos por uma amantíssima princesa saudita, avistada num palácio de pedra da Mesopotâmia e que nunca mais apartou do pensamento. Sara Sudairi era o seu nome. Suicidou-se num penhasco onde as águias nidificam. Era louca, de acordo com o registo médico que tive a oportunidade de consultar livremente, por amabilidade do rei Abdulah. Esquizofrenia, para o médico. Alma livre, para o rei Abdulah. A consistência dos passos humanos pesaria muito na alma frágil da princesa e por isso atirou-se do penhasco, convicta de que a força das suas asas a levaria aos céus - assim me explicou o rei. Sara foi a primeira paixão do meu tio, e foi fulminante. Viajar sozinho transformou-se numa fatalidade e também numa fuga ao buraco no peito onde Sara estivera, quando dantes era uma fúria e um sangue que inflamava as veias. Terá sido aí, na paixão não cumprida por Sara, que nasceu esta portugalidade do meu tio, esta rouca quase muda saudade e esta dolorosa e paradoxal necessidade de viajar sozinho. Mas ninguém tem a certeza. Eu não tenho.
- Gosto de viajar sozinho! - exclama o meu tio.
- Não tenho a menor dúvida disso, meu tio! - respondo-lhe. E seguimos.

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